Em reportagem de 3 e 4 de agosto, “Educação e renda travam a evolução”, a Gazeta do Sul tratou sobre o (fraco) desempenho do Vale do Rio Pardo (VRP) frente aos números do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que calcula o IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal: Educação, saúde – longevidade) e renda. Os dados foram do Censo IBGE/2010 e números de 1991 e 2000, de 5.565 municípios do País, destes, 496 do Rio Grande do Sul.
O VRP é formado por 29 municípios, destes 25 (86%) estão na metade final do ranking total do RS, restando 4 (14%) municípios na primeira metade. Se o comparativo for o Brasil, dos 29 municípios, 15 (52%) estão na metade dos piores índices e 14 (48%) na metade melhor. Os índices melhoraram nos últimos 20 anos, mas não devemos relativizar os dados atuais, que, como índice, têm limites, mas são um indicador importante de oferta e eficiência de políticas públicas para a Educação.
Das várias possibilidades de análise sobre esse tema, vamos à Educação, levando em conta os percentuais de adultos acima de 18 anos com ensino fundamental completo e jovens de 18 a 20 com ensino médio completo. Também percentuais de frequência de crianças de 5 e 6 anos, dos adolescentes de 11 a 13 nas séries finais do ensino fundamental e educados de 15 a 17 com ensino fundamental completo, avaliando o fluxo escolar.
A Educação colocou o VRP, com quase 500 mil habitantes, a maioria de áreas rurais, nessa situação constrangedora frente às estatísticas. Se analisássemos só os índices da Educação, teríamos dos 29 municípios, 20 entre a 2.822ª colocação até a 4.964ª (pior colocado) e apenas dez entre o 444º lugar (melhor colocado) e a 2.781ª posição. É inadmissível que a Educação seja entrave de não avançarmos frente a indicadores sociais. Deveria ser o contrário.
Esses números, aparentemente frios, são frutos de muitos equívocos ao longo da nossa recente história, que perpassam por políticas de desvalorização do professor, baixos salários e precariedade no trabalho (escolas em má conservação, bibliotecas insuficientes, salas lotadas, planos de carreira que desestimulam o profissional a estudar, formação continuada descontextualizada...), seja na cidade ou no campo. Isso tudo é resultado de uma compreensão de que Educação é gasto e não investimento, representando a falta de projetos de educação que considerem o contexto no qual as escolas e seus sujeitos estão inseridos e se relacionam. Ou seja, faltou planejamento e execução de ações educacionais por parte das gestões, construindo uma educação contextualizada, atendendo a expectativas da comunidade em todos os níveis de educação com qualidade e coerência.
Especialmente às escolas do campo é preciso enfatizar o desserviço à Educação que a “farra” das nucleações proporcionou nos anos 90/2000, na promessa de uma escola melhor, equipada e com professores mais qualificados. Acabaram com as escolas das comunidades, transportando estudantes em viagens intermináveis até o colégio. Promovendo um desvínculo destes e suas famílias frente à escola da sede do município ou da nucleada em alguma comunidade do campo. Desestimulando ao estudo, pois a escola ficou cada vez mais longe, reforçando que “pra trabalhar na roça ou viver no campo, não precisa estudar”.
Por tudo isso, esses dados alertam e cobram ações imediatas. Estamos na contramão da história, pois não há exemplos de países sérios que não fizeram da Educação uma obsessão. Para isso, gestores públicos, comunidade escolar e sociedade civil organizada, temos o dever de construir ações concretas para revertermos isso, sem pirotecnia, nem desculpas. Ou a história não nos absolverá!
EDIÇÃO DE - OPINIÃO
http://www.gaz.com.br/gazetadosul/noticia/420595-educacao_e_desenvolvimento/edicao:2013-08-15.html
http://www.gaz.com.br/gazetadosul/noticia/420595-educacao_e_desenvolvimento/edicao:2013-08-15.html
João Paulo Reis Costa e Cristina Vergutz
Monitores da Efasc
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